sexta-feira, 6 de fevereiro de 2015

Câmara de Gaia homenageia Albano Martins


A Câmara Municipal de Vila Nova de Gaia vai homenagear Albano Martins, poeta com grande reconhecimento nacional e internacional, residente nesta cidade há muitos anos, onde foi docente no ensino secundário e superior.
Para  associar as Escolas do concelho a esta homenagem, apresentam-se alguns poemas, alusivos ao Amor, selecionados pelo autor, com o propósito de os mesmos serem trabalhados com os alunos para o Dia dos Namorados e eventualmente servirem de inspiração para o Concurso de Poesia Inter-Escolas.
POEMAS SELECIONADOS


 De "A margem do azul"

 1. Em teus dedos pus
 um anel de crisântemos.

 2. Tu estás do outro lado.
Há pêssegos, laranjas sobre a mesa.
Presenças tangentes ao desejo.

 3. E te pressinto
o bafo. Vens
 com teus pólipos de águia
 submarina, teu
 cinto de agudos
 sobressaltos. Alga
 de sangue e magma, tu
 cresces redonda, coroada
de arquipélagos de escamas
e de espuma.

 4. De ti fiz a harpa e a lira,
 a guitarra.
 Outra música não sei.



De "Uma colina para os lábios"

 1. Eu disse: faça-se
um rosto à minha
imagem e semelhança, um corpo
à semelhança e imagem
do desejo. E dei
vertentes ao mar, afluentes
aos rios, crateras
ao sangue. E uni
as minhas têmporas às têmporas
do lume.

2. Há uma orquídea
florindo - teu
sorriso. Alegre
emanação da terra, folha
do vento, súplice
auréola do sangue, doce
colina e anémona
do mar.

3. Semáforo
o teu corpo.
Uma só luz:
vermelho.
A lâmpada
do sangue
ininterruptamente
acesa.

4. A polpa, a pálpebra
dos lábios entreaberta.
Há uma ânfora partida
na tua boca, uma pupila
de álcool
nos teus dentes, um fio
de vinho espesso
na tua língua.

5. Para morrer não era
necessária a morte. Bastava
o teu corpo.

6. A ti eu dei tudo.
A minha vida.


De "Livro Quarto" :

 1. Deitou-se a meu lado.
 Disse que vinha de longe e tinha sede.
  Bebemos pela mesma taça.

 2. Eu penso
 porque tu existes.

 3. Como o vento, ocupas 
 todo o espaço. Por isso
respiro. 

4. A labareda que tu és
 da cabeça aos pés.
 Ou dito de outra maneira:
 tu és o fogo e a fogueira.

 5. São vivas todas as marés
 que te nascem nos ombros,
 que morrem nos teus pés.

 6. Sou talvez
uma folha. Sê-lo-ia se tu fosses
 a árvore. Sou
talvez um ramo
no teu tronco. Um ramo
nu, despido,
húmido.
Sou
uma espada
 na tua bainha. 
  ALBANO MARTINS

Biografia

Nasceu em 1930 na aldeia do Telhado, concelho do Fundão, distrito de Castelo Branco, estando a residir na área do Porto desde outubro de 1969.
Licenciado em Filologia Clássica pela Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa, foi professor do Ensino Secundário, Inspector-coordenador da Inspecção-Geral do Ensino e ainda Professor da Universidade Fernando Pessoa, no Porto.
Colaborador, no início dos anos 50, da revista "Árvore", de que foi secretário da redacção a partir do nº 2, tem colaboração dispersa por outras numerosas revistas, entre elas a " Colóquio-Letras" e a "Nova Renascença".
Entre 1983 e 1989, foi membro da direcção da Associação dos Jornalistas e Homens de Letras do Porto.
Participou em diversos congressos, no país e no estrangeiro, sendo de salientar os vários Congressos Brasileiros de Língua e Literatura que se realizaram, até 2007, na Universidade do Estado do Rio de Janeiro.
Para além de prolífico tradutor, organizou, para a Imprensa Nacional-Casa da Moeda (Lisboa, 1987), uma Antologia do poeta simbolista português Eugénio de Castro, antecedida de um prefácio de sua autoria.
Tem colaboração, em prosa e verso, dispersa por numerosos jornais e revistas, do país e do estrangeiro.
É membro da Associação Portuguesa de Escritores e do P.E.N. Clube Português, Membro Honorário da Academia Cabofriense de Letras (Estado do Rio de Janeiro) e doutor honoris causa pela Universidade São Marcos, de São Paulo, Brasil.
Foram-lhe atribuídos vários prémios e condecorações, nomeadamente, pela Sociedade Brasileira de Língua e Literatura, do Rio de Janeiro, a medalha Oskar Nobiling, de mérito cultural; Grande Oficial da Ordem do Infante D. Henrique (pelo Presidente da República); Prémio de Tradução instituído pela Sociedade de Língua Portuguesa, de Lisboa; Prémio Eça de Queirós de Poesia, da Câmara Municipal de Lisboa; Grande Oficial da Ordem de Mérito Docente e Cultural Gabriela Mistral (pelo Governo da República do Chile) pela obra poética e tradução de Pablo Neruda; medalha de Ouro da Cidade do Fundão.
Muitos dos seus poemas estão traduzidos em espanhol, catalão, francês, italiano inglês, chinês (cantonense) e japonês.
A sua vasta obra (cerca de 40 títulos de poesia, prosa e infanto-juvenil) tem merecido a atenção de alguns dos mais importantes críticos e ensaístas contemporâneos, brasileiros e portugueses.
De entre as suas obras de poesia, salientam-se: Secura Verde (1950); Coração de Bússola (1967); Em Tempo e Memória (1974); A Margem do Azul (1982); Vertical o Desejo (1988); Rodomel Rododendro (1989); Vocação do Silêncio (Poesia 1950-1985); Uma Colina para os Lábios (1993); Com as Flores do Salgueiro (1995); O mesmo Nome (1996); A Voz do Olhar (1998); Escrito a Vermelho (1999) ; Assim São as Algas (Poesia 1950-2000); Palinódias, Palimpsestos (2006); As Escarpas do Dia (Poesia 1950-2010);
  

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